sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Há setenta e dois anos

Há setenta e dois anos, um anjo do céu chegou pra mim e disse:
- Olha! Está na hora de você descer de novo pra Terra. A mordomia acabou. O povo está lá te esperando.
- Puxa, anjo! Agora que eu estou aprendendo a me controlar? O pessoal que me espera vai me por a perder; conheço cada um deles. Vai ser uma paparicação sem fim. Aí, vou crescer me achando a dona do mundo – orgulhosa, petulante, vaidosa – não vai dar certo. Além do mais, com aquele povo todo cobra nos conhecimentos, vou acabar tendo que estudar muito pra honrar cada um deles. E ainda tem aquela coisa: vai chegar o momento que cada um deles vai me deixar na mão; vão todos voltar aqui pra cima. Vai ser chato pra caramba!
- É, mas você está precisando ver a luz lá de baixo de novo. Precisa crescer, evoluir, se controlar. E, afinal,trato é trato. Pode se mexer. Força, que vai dar tudo certo como foi combinado.
- Tá bom anjo! Mas vai ser duro ter que ver a luz de lá do jeito que está: ar poluído, pessoal estragando o Planeta, pessoal desperdiçando tudo, gente passando fome. E mais outra, vou ficar doente, vou ver o meu pessoal sofrer, meus parentes, meus amigos. Não sei, não.
- Você tem que ver as coisas por outro ângulo. Vai reencontrar tantos amigos, tanta gente boa, aqueles que sempre te quiseram bem e que vão te ajudar a conviver com os que não são tão afim. Olha, você vai cantar, vai dançar, escrever textos, ensinar seus filhos e seus netos a serem pessoas melhores. Quanta coisa! Agora vou te contar um segredo. No futuro, a tecnologia vai estar muito avançada. Vai ter um aparelhinho chamado computador; você vai aprender a usá-lo, vai ter um blog.
- O que é blog?
- Ah! Quando chegar o momento você vai saber. Pelo blog e pelos emails...
- O que é isso?
- Calma, tudo virá a seu tempo. Através desse aparelhinho, você vai poder passar a história de sua vida para muitas pessoas, vai mandar muitos recados sem precisar sair de casa. Você vai gostar. Além de tudo, os que reencarnarem depois de você vão te dar aquela força.
- Bem, anjo, se não te outra opção, lá estou indo de novo. Quantas vezes já retornei?
- Agora não vem ao caso. Desça e cumpra sua obrigação. Quando precisar de mim, me dá um alô que eu não vou te deixar na mão. Você vai conseguir. Vá com Deus.
Pois é, e aqui estou eu, escrevendo, setenta e dois anos depois, e passando pra vocês, como foi minha última conversa com meu anjo antes de reencarnar mais uma vez.

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