sábado, 5 de abril de 2008

Meus sessenta e seis

MEUS SESSENTA E SEIS
Ontem completei sessenta e seis. Como dizia minha finada sogra: “ entrei nos sessenta e sete.” Tenho a certeza de que, até aqui, vivi razoavelmente bem, tirando de toda essa vivência, bom proveito. Alguns momentos bons, outros, nem tanto, e por aí vai. Venci muitas batalhas, perdi outras, mas valeu a pena. Sei que outras virão e estou me preparando para enfrentá-las. Assim, aprendi a rever valores, a melhorar minhas posturas ante a vida, granjeei amigos, perdi alguns. Nada fiz sosinha. Nos momentos mais difíceis, os verdadeiros amigos não me deixaram fraquejar. Dentre as experiências vividas, revejo, olhando para trás, alguns fatos pitorescos, engraçados, embaraçosos. Muitos aconteceram quando eu tinha mais ou menos cinco ou seis anos de idade. Acontecia a Segunda Guerra Mundial, época de racionamento de víveres, como a farinha de trigo, o açúcar e combustíveis, como a gasolina. O açúcar não era refinado, era o mascavo, que deixava a água amarela. Eu adorava tomar água amarela. Muito paparicada pelos familiares, aproveitava para que me fizessem as vontades. Duas primas mais velhas, adolescentes na época, a Dila e a Tina, sempre nos visitavam. Moravam em Bauru e nós em Lácio, um vilarejo que não possuia luz elétrica. Era carnaval e, como de costume, mamãe me fantasiava para que eu participasse das matines. Lá se foram, então, minhas primas me levar ao baile. Cada uma tinha um “flerte”. No melhor da festa, para elas, a pentelha aqui resolveu querer tomar a tal da água amarela. Tanto apoquentei as duas, que se viram obrigadas a me levar para casa e deixar seus paqueras. De uma outra feita, só a Dila veio nos visitar. Seu paquera era o Coelho ( apelido do gajo).‘A noite, saímos para ela encontrar-se com ele. –Eu, sempre junto, segurando vela. Naqueles tempos, as moças não saiam sosinhas para namorar.. Para me agradar – ou me despistar - me compraram um “pé de moleque”, doce do qual eu gostava muito. De repente, o doce caiu. No escuro, sem luz na rua, calçada estragada, a pentelha abre o bocão. Minha prima, nervosa, abaixou-se procurando o doce. Achou! Quando o levei ‘a boca, percebi que era um pedaço da calçada. Muitos pulos e choros depois, voltamos para casa. Um namoro se fora para o brejo. Esse e outros fatos ficaram também, na lembrança de minhas queridas primas, que ainda se riem dos mesmos. Todos temos fatos pitorescos em nossas vidas e, de vez em quando, recordá-los, nos faz viver melhor.Assim, vamos aprendendo a nos dar as mãos para caminharmos juntos nos trilhos da existência. Só temos é que ter o cuidado de pular fora, a tempo, quando vem o trem!

Esse texto, escrevi em 21de agosto de 2004.