quarta-feira, 21 de outubro de 2009

NO DIA DO MEU CASÓRIO

Casei-me nos idos anos sessenta. Naquele tempo, mesmo que fôssemos fogosas, tínhamos que nos controlar. Algumas conseguiam, outras, não . Tínhamos que maneirar. Moça direita não podia andar torto; ficava falada. Eu estava ansiosa. Contava os dias para o tão esperado evento de minha vida...

Ia provar o vestido de noiva na costureira Guiomar, voltava a provar. Queria ficar bonita. Eis que chegou o momento. Casamento civil, em casa. Papai era dono de cartório. Estavam todas as autoridades da cidade para testemunhar a união: juiz de direito, promotor público, delegado de polícia – não me casei ¨na marra¨ , como se dizia naquele tempo- outras autoridades e seus respectivos familiares. A parentaia lotava a casa. Seria aquela festa.

Tudo preparado, se aproxima o instante. Juiz de paz a postos, padrinhos, etc. E o noivo? Passava o tempo e... nada! Comecei a ficar furiosa. ¨Não caso mais.¨ Aí, chega o gajo, acompanhado dos pais e irmãos. ¨Minha mãe se atrasou...¨ Conversa vai, conversa vem... aceitei as desculpas. Ufa! Os comparecentes respiraram aliviados...

Realizada a cerimônia, fomos para o lauto almoço. Logo, as pessoas foram saindo para se prepararem para o religioso que seria às cinco da tarde. Puxa vida! Justo quando chegou a hora do banho, cadê a água? As torneiras estavam secas. Que mancada! E agora? E eu, a noiva? Tive que me vestir de noiva sem tomar banho de água. Ainda bem que estávamos no Inverno. Como as francesas, tomei banho de perfume, para não exalar algum bodum.

Apenas me faltou o buquê de flores naturais para ajudar um pouco, que era também o que elas levavam para disfarçar o cecê. Cinco horas da tarde. Pedi para a minha irmã e um amiguinho verificarem se o noivo já estava a postos. Não queria passar pelo mesmo constrangimento da manhã.

A igreja ficava a um quarteirão de casa. Logo voltaram os dois: ¨O noivo já chegou.¨ Subi, então, no carro chique do primo de meu pai, e lá fomos nós para o casamento religioso. Ao entrar na igreja, levada pelo meu pai, me irritei. A organista contratada tocou erradamente a melodia escolhida por mim: O Largo, de Haendell.

Tudo bem. Seguiu-se a cerimônia. Terminada a mesma, fomos para os cumprimentos. Logo na saída, minha sogra me abraçou – abraço de crocodilo – arrancando-me da cabeça, véu e grinalda. Ó vida! Ó sogra! Já no primeiro dia? Uma amiga, prontamente recolocou os adereços, mais ou menos e fomos para casa festejar.

Festa vai, festa vem, chegou a hora da viagem de lua de mel. Entrei em meu quarto de solteira e fui trocar de roupa – sem tomar banho - . A janela estava aberta e havia um corredor que passava por ela. Justamente quando eu estava em ¨trajes menores¨, passa um amigo do noivo. Olha para dentro do quarto e me vê naquela situação. ¨Ops! Desculpe!¨ O Ivair – esse era o seu nome, me viu, entre aspas, antes mesmo do meu marido. Foi o primeiro.

Assim como as francesas de antigamente, casei-me e fui para a viagem de núpcias sem tomar banho. Vejam bem! Após chegar ao hotel de destino, fui logo tomar uma bela chuveirada, me preparando para a hora agá.