quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ainda há pouco...

- Ainda há pouco eu estava de mãos dadas com minha pajem, lá na fazenda do Rio do Peixe, em Marília, indo buscar água na bica, enquanto seu Alfredo rachava lenha para minha mãe acender o fogo e meu pai a ensinava como cortar o frango em pedaços, nas juntas, antes de ser colocado na panela...
- ainda há pouco eu estava em Lácio, indo ao cirquinho de fantoches enquanto minha mãe ninava meu irmão Antoninho...
-ainda há pouco, lá em Lácio mesmo, nos preocupávamos com meu tio Cesário que havia ido para a guerra, enquanto meu pai, com tifo, recebia a extrema-unção e se restabelecia...
- ainda há pouco meu irmão Luis nascia no meio a uma coqueluche brava minha e no Antoninho...
- ainda há pouco eu aprendia as primeiras letras, essas mesmas que agora uso para escrever este texto...
-ainda há pouco, lá em Oriente, minha irmã Dalva Maria nascia e eu cantava na Igreja coroando Nossa Senhora; cantando como caloura no Serviço de Auto-falantes bem em frente a minha casa e ganhando prêmios – refrigerantes, goiabada, lata de sardinhas – interpretando músicas da época...
- ainda há pouco, em Rosália, tinha meu primeiro namorado...
- ainda há pouco estava dançando minha valsa de formatura de professora, a ¨Valsa do Imperador¨, no Automóvel Clube de Bauru, com meu primo Manoel...
- ainda há pouco, após alguns namoricos me casei com o Chiquinho, lá em Getulina...
- ainda há pouco nasceram meus amados filhos, Regina Márcia e Guto...
- ainda há pouco... ainda há pouco, Guto e seu filhinho viajaram para não mais voltarem...
- ainda há pouco, também partiram meus pais, meu irmão Luís, tios queridos, primos, amigos...
- ainda há pouco entrou o Alberto pela minha porta, se casou com a Regina Márcia que me deram de presente a Alice e a Luísa, minhas duas princesinhas...
- ainda há pouco Alice entrou para a Universidade de São Paulo – terceiro ano já – e a Luísa logo termina o segundo ciclo do Fundamental...
- ainda há pouco... ainda há pouco... e já se passaram quase setenta e dois anos... Muitos momentos bons, alguns tristes – indeléveis - e outros que, por graça Divina, consegui deletar...
- ainda há pouco...

Falando em cachorro...

Diz um velho ditado:-¨É melhor ter um cachorro amigo do que um amigo cachorro.¨ amigo cachorro me lembra de cachorrada. Por quê? Por que ofender tanto esse animalzinho que nos acompanha, nos espera pacientemente o dia todo, abanando seu rabinho, sempre fiel, mesmo que estejamos de mau humor? Quem não gosta de cachorro não sabe carregar dentro de si o sentimento áureo que tem apenas quatro letrinhas, o amor. Quando estamos sós, lá vem ele nos lamber, nos agradar. Sente, ou melhor, pressente nossos dissabores, nossas tristezas. Lambem até nossas lágrimas... A Natasha, essa nossa amigona, agora está no céu dos cachorros. Isso mesmo; porque todos os cachorros merecem o céu. Partiu, e, em nós fica a saudade do seu jeitão de nos receber, com aquele olhar pidão:- quero carinho, quero amor. Ela não era nossa, era do Paulo, o filhão do coração. Ora! Então era nossa também... O Paulo e suas três meninas estão tristes. E nós também... Tchau, Natasha! Quem sabe ainda nos veremos? Quem sabe se, quando formos para o nosso céu, teremos a permissão de visitá-la no seu céu?