sábado, 13 de agosto de 2011

Reminiscências de uma infância feliz

Reminiscências de uma infância feliz
Flashes de um passado ditoso, embora entremeado de dificuldades e até tristezas – todos as têm – vem e vão , num gostoso sentimento de aconchego, de amor. Pequenos vilarejos onde moramos por algum tempo; papai era Serventuário da Justiça e estávamos sempre nos mudando na procura de maior conforto, bem estar e escolas onde pudéssemos estudar, seguir alguma carreira, sermos bons cidadãos. Tanto papai quanto mamãe desejavam que tivéssemos boa formação moral e intelectual. Nas casa em que moramos, quintais extensos, grama verdejante onde mamãe quarava a roupa e as cabras leiteiras se fartavam. Bebíamos leite de cabra e brincávamos com os cabritinhos que corriam e pulavam ao nosso redor. Papai era quem as ordenhava. Lembro-me muito bem dele fazendo esse trabalho com imensa paciência. Gostava muito de vê-lo fazer doces deliciosos – era mineiro e trazia no sangue essa faceta- de leite, ovos e também de abóbora em pedaços quando eram chegados nossos aniversários. No imenso quintal havia sempre um fogãozinho onde fazia sabão de cinza e também torrava o café em grão que depois era moído por mim ou mamãe no antigo moedor apropriado, a cada coada, a cada visita que vinha. Ainda o vejo sentado numa banquetinha virando o torrador para que os grãos não se queimassem. Que cheiro bom exalava... Gostoso mesmo era quando íamos até Marília, a cidade grande, levar documentos ao Forum para o juiz de direito verificar e assinar. Íamos na charrete puxada pela égua Estrela. Lá eu era paparicada pelos cartorários, advogados, pelo meu padrinho que era juiz, e os mimos, presentinhos vinham a cada vez. Como eu era a filha mais velha, tive mais privilégios que os outros irmãos. É claro que se zangavam quando desobedecíamos ou fazíamos algo que não era de acordo com o ensinado. Nos estudos, os dois se revezavam nas explicações e tiradas de dúvidas. Papai era bom em Aritmética, nos problemas. Nos momentos em que ele me ensinava, às vezes, se irritava e perdia a paciência quando eu não entendia muito bem. Mamãe era boa mesmo em redação, em Português. Também era ótima violinista, arte que foi deixando aos poucos, no decorrer da vida. Papai sempre comprava partituras das músicas que ela gostava. Não era músico mas adorava ouvi-la tocar. Que alegria era quando vinham minhas tias também “tocadoras” e cantoras! Era uma festa. Os “tocadores” dos vilarejos onde estávamos vinham fazer serenata para minhas tias. Dormíamos ao som de seus cavaquinhos e sanfona... O violino de mamãe ainda está aqui, bem do meu ladinho, enquanto escrevo esse texto, na nossa salinha de estudos e música. Uma grande parte da bagagem cultural que tenho veio deles. O gosto pela leitura, o despertar para a literatura começou muito cedo; logo que comecei a ler. Também passamos por poucas e boas. Papai teve tifo e quase se foi antes de nos preparar para a vida. Essa moléstia deixou muitas sequelas que carregou por toda a sua vida. Foi na época da segunda guerra e eu tinha apenas cinco anos de idade. Ele se foi aos setenta e sete anos. Mamãe foi bem antes, aos sessenta e três. O tempo passou muito depressa e meus pais partiram deixando doces lembranças, muitos ensinamentos. Hoje, exatamente às dezessete e trinta, me preparo para assistir ao “Cantinho Caipira” aqui no Sesc de Osasco. Os artistas são minha filha - que cantora! e meu genro, violeiro de primeira! Sou mãe e sogra corujona, mesmo, assumida!!!... Pra mim é uma vitória, uma realização. E as reminiscências futuramente serão das minhas netas que terão muito o que contar e cantar sobre seus pais. E estão no mesmo caminho... “Quem sai aos seus não degenera assim diz o velho ditado

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, Vó!
Lindos textos

Alice

Anônimo disse...

Lindo texto mesmo D. Cidinha! Dá gosto de ler seu blog, adoorrroo.
bjs

Unknown disse...

ADOREI O TEXTO.
ADOREI SABER UM POUCO MAIS DA SUA HISTÓRIA.
ESCREVA MAIS.
PARABÉNS!

NELI
06/01/2014